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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

     A falsa cura do comprador compulsivo


     Olá, amigos! Quanto tempo se passou desde a minha última postagem e quanta coisa aconteceu nesse período de tempo... ufa!! Não é fácil ser um comprador compulsivo e mesmo quando você acha que está bem, acaba descobrindo que está se afundando novamente. A pior coisa que pode acontecer é você achar que está curado, pois é aí que mora o perigo. E, como se curar de um vício? De algo que é bom e te faz sentir tão bem? Que faz os seus olhos brilharem, seu coração disparar e você se sentir a pessoa mais feliz do mundo... pois é assim que um compulsivo se sente quando compra algo do seu desejo. Mesmo que há cinco minutos atrás, ele nem soubesse que precisava daquilo e de que era tão imprescindível.
        Você começa olhando vitrines e acha que está tudo bem, afinal de contas, quem não o faz, né? As vitrines são uma tentação, elas te chamam, te seduzem e te faz entrar por aquela porta que, se não tivesse tantas coisas lindas, dispostas de maneira tão atrativa, você não entraria naquela loja. Depois de namorar a vitrine e pensar muito a respeito, acaba entrando... roda a loja, olha tudo e aí chega a vendedora perguntando se pode te ajudar e você responde (toda convicta) que não, que está apenas dando uma olhada... Aí, você se sente a dona situação e acha que está no comando... passa mais um tempinho e você além de entrar pede para experimentar (e diz para si mesmo: não vou comprar, só vou experimentar a toa, que mal tem? Experimentar nunca matou ninguém.). Só que quando você experimenta alguma coisa, ao mesmo tempo você está sendo experimentado, testado e tentado. Pronto, eis a brecha que sem perceber você abriu para voltar aos velhos hábitos. E é interessante como o seu cérebro te engana,, porque você está no controle agora e pode entrar em qualquer loja que consegue sair sem comprar uma agulha.
     Você sai da loja toda feliz, pensando: nossa, não comprei nada. Mas, então, aquela cena fica rodando na sua cabeça,, principalmente se ficou lindo e perfeito em você e, sem perceber seu cérebro começa a te dar argumentos para comprar aquele item. Você acha que está no controle porque antes, entrava na loja e saía cheia de sacolas e agora, entrou e não levou nada...ainda. O problema está em achar que está no controle da situação e que você vai parar quando quiser. Afinal de contas, somos muito inteligentes para poder sermos dominados por bolsa, ou roupas ou sapatos, etc... No entanto, o seu cérebro continua articulando desculpas e, boas desculpas para a aquisição do produto. 
     O que começou como uma simples olhada na vitrine vira uma tormenta porque você não consegue tirar aquilo da cabeça e vai sendo torturado com a possibilidade de outra pessoa comprar e você "perder a oportunidade de ter algo que realmente precisa MUITO". Claro, o compulsivo sempre pensa que precisa muito daquilo, que é algo essencial que ele tem que comprar. Depois de muito pensar e argumentar com si mesmo, chega a decisão de que não tem problema comprar uma coisinha, porque você trabalha tanto e merece se mimar de vez em quando, e o mais relevante: está precisando!! Como posso deixar de comprar algo de que preciso, de que é essencial para mim? Não posso, né?
     Você passa o dia todo atormentada com medo de venderem a sua "necessidade", já que a vendedora falou que era peça única. Enfim, você sai do trabalho e vai correndo até a loja, consumida pela ansiedade e pelo medo de ficar sem o objeto do desejo. Chega lá, você dá aquele suspiro quando vê que ainda está na vitrine e entra correndo antes que outro o faça primeiro. E, dessa pequena coisinha que você ia comprar, sai da loja levando pelo menos cinco coisas, cheia de sacolas e rindo à toa. E depois acaba descobrindo que a peça não era única, já que a comprou e já tem outra igualzinho no lugar. Mas, a sensação de alegria e a sua necessidade justificam a compra. Sabe a carinha de felicidade da criança quando ganha no Natal algo que pediu durante o ano inteiro? É desse jeito. as sensações? Nem sei se da para descrevê-las, é uma mistura de euforia, alegria, satisfação e tantos outros sentimentos maravilhosos que nem da para explicar a reação química que acontece naquele momento dentro de nós.
     Outro engano é quando você sai e não compra nada para você, então fica tudo bem porque não gastei dinheiro comigo. Só que compra coisas para o marido, os filhos, coisas de que nem precisam. Quantas vezes, entrei em uma loja e só da minha filha olhar, já comprava. É recompensador, afinal, você está fazendo pelo próximo, abdicando-se de si mesmo para melhorar a vida do outro. Tudo balela... você, sem perceber, está alimentando o seu vício e repetindo o ciclo que te aprisionou no passado e continua te escravizando, só que de uma maneira diferente. 
     Eu fico pensando, como nos permitimos a isso? Como não enxergamos se todos a nossa volta estão vendo claramente o que está acontecendo? E, por que, só depois de estarmos afogados em dívidas é que caímos na real? Talvez, Freud explique, mas mais do que reconhecer e admitir o problema, temos que enfrentá-lo e nos conscientizarmos de que não existe solução definitiva. É uma luta diária que a pessoa tem que encarar todos os dias. Tem que ser humilde e reconhecer sua fragilidade e saber que nesse quesito, ela nunca estará no controle, ao contrário, será sempre controlada. Esse pode ser o primeiro passo para as vitórias diárias.

Andrezza Malaquias.