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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Impulsividade ou Compulsão?


De acordo com o doutor Geraldo Ballone1, as compulsões são hábitos aprendidos e seguidos por alguma gratificação emocional, um escape para a ansiedade e/ou angústia. Eles são comportamentos repetitivos, frequentes e excessivos. Para ele, não há uma causa estabelecida, sendo esses comportamentos entendidos como uma forma de encarar a ansiedade e/ou angústia.
Com esses tipos de problema, classificados como transtornos de espectro obsessivo compulsivo (TOC), a pessoa torna-se dependente dessas atitudes, sentindo-se desconfortáveis emocionalmente caso não as façam. Muitos pensam que as pessoas se comportam dessa forma porque querem aparecer ou porque são sem vergonha ou inconsequentes. A falta de informação e o desconhecimento da gravidade e importância do problema leva as pessoas a julgarem e criticarem quem tem comportamentos compulsivos. Porém, ao contrário do que muitos pensam, pode-se dizer que há semelhanças entre os comportamentos compulsivos e a dependência química, pois a repetição desses comportamentos e o aumento da frequência caracterizam um processo de dependência, onde as pessoas acabam controladas pela sensação de prazer e satisfação que os comportamentos proporcionam. O problema é que esses comportamentos tornam-se repetitivos e prejudiciais, uma vez que a pessoa fará qualquer coisa para se sentir bem; entrando em um círculo vicioso, interminável e altamente prejudicial que afetará, a curto prazo, sua qualidade de vida e suas relações sociais.
O comprador compulsivo é dependente do ato de comprar. O interessante é que esse comportamento causa um grande prazer no momento, mas traz um arrependimento posteriormente. Mesmo assim, é impossível entrar em uma loja ou visitar sites sem comprar “coisas”. Digo coisas no plural, porque a pessoa não se contenta em comprar apenas um, mas tem que comprar vários objetos. Muitas das vezes objetos iguais, apenas de cores diferentes.
A compra online é ainda mais prazerosa, pois a espera pela chegada do produto gera uma alegria misturada com satisfação. Então, até a chegada da compra, a sensação de prazer é alimentada, chegando ao seu ápice no recebimento do que foi comprado. Desta forma, após o recebimento do produto, contemplação e êxtase (sim, ficamos extasiados de tanta felicidade. Já cheguei a chorar de emoção, abraçando e beijando o que tinha comprado. Bizarro, né? Mas é desse jeito), a alegria dá lugar a um vazio que precisa ser preenchido novamente. Isso faz com que tenhamos que comprar para manter a (falsa) sensação de felicidade
Dilson Gabriel dos Santos, professor de comportamento do consumidor da USP, chama a atenção para discernirmos um impulso de comprar de uma compulsão. Segundo ele:

“essas pessoas impulsivas pelas compras cometem as ...pequenas loucuras que se cometem ao passar pelas gôndolas de supermercados, diz. Leva-se uma garrafa de bebida, um iogurte ou um pacote de biscoitos a mais, observa. Já o  compulsivo vai às compras como um viciado que sai de casa para jogar ou em busca das drogas, e a compulsão acaba sendo uma atitude que exclui logo o prazer pela aquisição do novo produto.” (Comportamentos Compulsivos)

Como já disse em outro artigo, o primeiro passo para uma mudança de comportamento é reconhecer o problema e buscar ajuda rápido. Apesar de não ter cura, um acompanhamento e tratamento especializado (psiquiátrico/psicológico) ajuda a lidar melhor com a situação e a diminuir os impactos negativos desses comportamentos na vida das pessoas. Se você é um comprador compulsivo, não tenha vergonha de admitir o problema e procurar um profissional qualificado. Sempre haverá algo que pode ser feito para melhorar a sua qualidade de vida e resgatar as relações estremecidas por esse transtorno.

1Dr. Geraldo J. BalloneEspecialista em psiquiatria pela ABP e professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da PUCCAMP desde 1980. Coordenador do site PsiqWeb - Psiquiatria clínica didática para pesquisas e consultas 


Andrezza Malaquias

Referência:
BALLONE, J. Geraldo. Comportamentos Compulsivos. Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n15/diseases/compulsive.html> Acesso em 7.11.16.