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terça-feira, 21 de agosto de 2018

Confessions of a real shopaholic


Em geral, o mundo julga as pessoas compulsivas, até por que ele não vê o problema, a princípio e, quando vê, acha que é um capricho, uma atitude irresponsável. A compulsão por compras é pior ainda, ela é mal vista; pois ao ver um compulsivo ostentando as sacolas e um sorriso de aparente satisfação, mostrando ao mundo o quanto “está feliz” e como isso lhe dá prazer, não percebe que, na verdade, essa felicidade esconde a tristeza advinda da frustração de ter sido derrotada mais uma vez. A aparente alegria, rapidamente dá lugar à culpa e ao arrependimento, torna-se uma tortura ao perceber que, mais uma vez, você se sucumbiu àquele impulso doentio.
O interessante e ao mesmo tempo perturbador é que, mesmo a pessoa tendo consciência do problema (o que demora um pouco para acontecer, quando acontece), ela não consegue evitar. Mesmo já não sentindo tanto prazer, ela não consegue dizer não. Sinceramente, não sei o que é pior, não reconhecer o problema ou reconhecê-lo e se ver derrotada por ele dia após dia. É uma sensação de impotência tão grande diante de algo que, teoricamente, é tão fácil de fazer. Para a maioria das pessoas isso não é um problema e por esse motivo, imagino eu, é difícil para elas compreenderem e ajudarem. Eu sempre digo que a relação de um comprador compulsivo com a compra é patológica porque ela causa dor, ansiedade, desnorteia a pessoa de certa forma. Dizer não dói, deprime e não deveria ser assim. Ao mesmo tempo, dizer sim também machuca e causa danos financeiros, sociais e, principalmente, emocionais.
 É um círculo vicioso do qual a pessoa tenta sair (apesar de parecer o contrário), mas parece estar presa naquele comportamento. É uma pessoa “livre”, mas sem liberdade, acorrentada sem correntes e é tão doloroso admitir. Ela busca ajuda profissional, traça metas, assistir a vídeos sobre educação financeira, sobre vida minimalista, busca desesperadamente por algo que a faça encontrar o gatilho, entender onde tudo começou para poder se curar. A pessoa fica toda empolgada planejando as mudanças que fará, já vislumbrando a nova vida e como as coisas vão melhorar. No entanto, tudo se desmorona quando, mais uma vez, a pessoa é vencida pela compulsão e, então, a esperança de um recomeço dá lugar ao sentimento de fracasso, à sensação de caso perdido. Daí, a pessoa pensa: “pra que lutar? Eu não vou conseguir mesmo”. E o que ninguém compreende, principalmente, o compulsivo é “como eu posso cometer o mesmo erro sempre? Se eu conheço o meu problema, por que não consigo vencê-lo?”
Para quem está de fora, observando o comportamento compulsivo, e não vivencia na pele o problema é fácil apontar e julgar, criticar e dá a receita do sucesso: “isso é palhaçada, é sem-vergonhice, é só fazer assim e acabou o problema”. O que esses “atentos” observadores desconhecem é o inferno interior que o compulsivo vive, o turbilhão de pensamentos, a confusão mental, a ansiedade misturada com euforia e frustração, as tristezas e decepções consigo mesmo. A pessoa deixa de confiar em si mesma e seus pensamentos alternam entre “eu não tenho jeito” e “eu vou conseguir, desta vez será diferente”. E num mesmo dia, ela vive tantas emoções e sentimentos, muitas vezes, tudo ao mesmo tempo. A pessoa quer se dar uma chance para mostrar que pode fazer diferente, mas ao mesmo tempo tem medo de fracassar mais uma vez. Ela quer ser compreendida, quando ela mesma não se compreende. Ela quer ser apoiada ao invés de ser criticada e, acima de tudo, ela quer ter a certeza de que um dia tudo isso terá um fim e ela será dona da sua própria vida.


Andrezza Malaquias