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terça-feira, 8 de junho de 2010

Sonho de consumo pode virar um pesadelo no Natal

Especialistas alertam que compulsão por compras causa dependência como álcool e nicotina 



Rio - Dezembro: mês de festas, compras e, se não tomar cuidado, dívidas. Com o 13° no bolso, muitos consumidores perdem a noção do limite e começam o ano novo no vermelho. Especialistas alertam que, como o cigarro e a bebida, o ato de comprar também proporciona sensação de prazer e, por isso mesmo, pode causar dependência. Nas mãos de compradores compulsivos, o cartão de crédito e o cheque especial se transformam em ‘drogas’ tão poderosas quanto o álcool e a nicotina.
A psiquiatra Fátima Vasconcellos, da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, afirma que, quando o comprador compulsivo entra em uma loja, o seu cérebro libera mais dopamina que o normal. E é justamente essa substância que provoca a sensação de euforia e bem-estar. O problema é que a ação tem efeito passageiro e ela se esgota, muitas vezes, assim que o indivíduo põe os pés fora do shopping.
“As compras funcionam como um escapismo na vida do compulsivo. É como se elas servissem apenas para sublimar sentimentos negativos, como solidão, ansiedade ou baixa auto-estima. Muitos correm para o shopping quando estão deprimidos e, na maioria das vezes, saem de lá pior do que entraram. Afinal, quando o efeito narcotizante passa, eles se sentem tristes e envergonhados”, afirma a psiquiatra.
Os primeiros sintomas da ‘oneomania’ costumam surgir na adolescência, quando o futuro compulsivo começa a trabalhar e adquire independência financeira. No decorrer dos anos, eles passam a trocar as contas do mês por gastos supérfluos com roupas e CDs. É aí que surgem as primeiras dívidas. Sem ter como pagá-las, recorrem aos mais vis subterfúgios, como penhorar jóias da família, contrair dívidas com agiotas ou fazer empréstimos para cobrir outros empréstimos.
Segundo estimativas da Associação Americana de Psiquiatria, oito em cada dez vítimas de oneomania são mulheres. A mais famosa delas talvez seja a ex-primeira dama filipina, Imelda Marcos, que chegou à espantosa marca de três mil pares de sapato. A arquiteta Teresa Cristina (nome fictício) não chegou a tanto. Mas já contabilizou quase 50 em seu armário. Muitos deles, aliás, sequer cabiam no pé.
“Já fui tachada de sem-vergonha, mau-caráter e 171. O que as pessoas não sabem é que a oneomania é uma doença como outra qualquer. Já cheguei a ganhar R$ 1,3 mil por mês e a dever quase 10 vezes mais. Se não fosse o Devedores Anônimos, não sei o que teria sido da minha vida”, emociona-se Teresa, que teve sete cartões de crédito, 15 cheques devolvidos e o nome no Serasa.
Os Devedores Anônimos já existem em 18 países
Quando o sonho de consumo ameaça virar pesadelo, os compradores compulsivos podem recorrer ao atendimento médico na Santa Casa da Misericórdia, que inaugurou há menos de um mês um serviço especializado para os oneomaníacos.
Segundo Fátima Vasconcellos, o tratamento envolve sessões de psicoterapia e, dependendo do caso, remédios antidepressivos e estabilizadores de humor.
O Devedores Anônimos (DA) também costuma dar bons resultados. O grupo, fundado nos EUA em 1968, chegou ao Brasil em 1997. Hoje, há mais de 500 grupos em 18 países. Estima-se que 3% da população mundial sofra da doença.
No Rio, as sessões do DA acontecem aos sábados, de 9h às 12h, na Rua México, 90, 9° andar. Nas reuniões, os integrantes compartilham suas experiências, são aconselhados a anotar minuciosamente os seus gastos — até e principalmente os considerados irrisórios — e, principalmente, a cancelar cartões de crédito e talões de cheque. O aposentado José Augusto (nome fictício) é consumidor compulsivo há dez anos e integrante do DA há quatro. No auge da crise, chegou a receber a visita nada amigável de um agiota.
“O meu fraco sempre foram os CDs. Cheguei a ter mais de mil. Às vezes, comprava vários exemplares do mesmo título. Outras, nem tirava o CD do plástico. Comprava por comprar. A certa altura, devia R$ 35 mil. Minha mulher se viu obrigada a hipotecar um apartamento para quitar a dívida. Hoje em dia, ela ainda arregala os olhos quando chego em casa com algum CD”, confessa.
Para a psicóloga Ângela Duque, Natal e Réveillon são épocas especialmente perigosas para os compradores compulsivos. As ofertas de liquidação e as compras parceladas exercem uma sedução quase hipnótica. “Muitos não resistem ao apelo consumista e sofrem recaídas no fim do ano. O pior é que, ao contrário dos usuários de drogas, como álcool e nicotina, os compulsivos não podem simplesmente parar de comprar. Eles têm é que controlar melhor os seus gastos”, pondera.
UMA VIDA FINANCEIRA SAUDÁVEL
Um tratamento de choque. É isso o que verdadeiros ‘doutores das finanças’ sugerem para aqueles que sofrem os malefícios da oneomania. Para o autor do livro ‘Terapia Financeira’, Reinaldo Domingos, a primeira medida a ser tomada é equilibrar o orçamento mensal. Parece simples e realmente é. “Não se deve gastar mais do que se ganha. O ideal é gastar, no máximo, 80% do que se ganha”, afirma Reinaldo.
A coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública Geral do Estado do Rio de Janeiro, Marcella Oliboni, garante que pedir empréstimo para pagar outro não resolve o problema do comprador compulsivo. “Nesta época do ano, é importante evitar compras a longo prazo. O melhor a fazer é comprar à vista. Ou parcelar o valor em pouquíssimas vezes se a compra for realmente necessária”, salienta.
Outra dica valiosa, ressalva Reinaldo Domingos, é aprender a racionalizar os gastos. Do condomínio e da energia elétrica ao cafezinho e à manicure. “É preciso identificar os gastos mensais, por menores que eles pareçam ser, para eventualmente corrigi-los. Se um fumante deixa de comprar um maço de cigarro, que custa R$ 2,75, e aplicar esse dinheiro na poupança, ele terá, ao fim de 30 anos, cerca de R$ 288 mil”, contabiliza.
Hoje recuperados da compulsão por compras, Teresa Cristina e José Augusto mostram que aprenderam a lição. “Não quero mais saber de cartão de crédito na minha vida. Hoje, se tenho dinheiro, eu compro. Se não tenho, deixo para quando tiver”, garante ele. Teresa Cristina mostra não ser tão radical: “Ainda tenho cartão de crédito para uma emergência. Mas já pedi várias vezes ao banco para reduzir o meu limite de crédito”.
Fonte: O dia Online.

Doença do consumo atinge 5%

Compulsivos são vítimas de mal classificado pela OMS. Para viciados em shopping e sites de vendas, importante é gastar

por Cristiane Campos e Luciene Braga

Rio - Você comprou alguma coisa que não havia planejado, não precisava, mas estava com um precinho ótimo, irresistível? E ainda fez uma prestação? Se nunca aconteceu, certamente deve conhecer alguém com esse perfil. Poucos sabem, mas há uma doença bem mais comum do que se pensa que caracteriza os compradores compulsivos e atinge 5% da população mundial: a “oniomania”, catalogada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

no Brasil, os doentes representam quase 10 milhões de consumidores. Shopping, sites de e-commerce e programas de vendas pela tevê são o paraíso dessas pessoas que não resistem a uma comprinha, a um cartão de crédito (ou vários), a uma prestação (ou várias) ou a um cheque (mesmo voador e até emprestado) para manter o hábito de comprar. O DIA publica teste para o leitor verificar se sofre desse mal.

DIFERENTE DA VIDA REAL

O
filmeDelírios de Consumo de Becky Bloom” mostra uma oniomaníaca com sérios problemas financeiros por conta da compra por impulso. A personagem vive cena hilária em que sofre antes de abrir o boleto do cartão de crédito, imaginando conta bem menor que a longa descrição de pequenosdeslizes” financeiros. Viciada em boas marcas e pechinchas, colecionou um galpão de produtos que nunca usou. No cinema, tudo acaba bem, com direito a virada, mas nem sempre é assim na vida real.

A
estudante Bruna Rodrigues, 23 anos, assume que compra mais do que planeja: “Passei mais de um ano em estágio. Ganhava bem, mas não guardei um real. Como tinha dinheiro, comprava. O pior é que estudava perto do shopping”. Ela agora decidiu economizar. “Tenho objetivo. Pretendo viajar e devo resistir aos desejos”, planeja. Há quanto tempo está cumprindo a meta? “Comecei este mês”, diz, com sorriso traidor, enquanto “namorava” vitrines.

Na
origem, dificuldade com limite

Professora e coordenadora do
Curso de Transtornos Alimentares da PUC-Rio, Dirce de Sá Freire afirma que a compra por impulso é a dificuldade de lidar com limites. “Para essas pessoas, não interessa o que compram, se precisam ou não. Interessa é o ato de consumir. É como o comer o que não se tem necessidade: engorda. O que é preciso comer não engorda ninguém”, compara a especialista.

Segundo ela, culturalmente, a mulher é apontada como mais compulsiva, mas homens também sofrem com o problema. “Sobra o lugar daquela que não precisa lidar com limites, atribuídos ao homem, que é quem paga as contas, conhece e provê as necessidades. Mas isso também mudou”, complementa Dirce.
Fonte: O Dia Online, 5 de junho de 2010.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Quando gastar torna-se uma obsessão

Por Laura Lopes
Comprar, comprar e comprar... Muita gente compra para obter status, por necessidade, ou até mesmo por modismo, mas há quem compre pelo simples prazer que esse ato proporciona. Essas pessoas são os chamados consumidores compulsivos e formam 3% da população brasileira.
A oniomania, doença que ataca esse tipo de compulsivo, é caracterizada como um transtorno de personalidade e mental, classificado dentro dos transtornos do impulso. Para o consumidor compulsivo, o que lhe excita é o ato de comprar, e não o objeto comprado. Essa pessoa "tem vontade de adquirir, mas não de ter", afirma o psicólogo Daniel Fuentes, coordenador do Ambulatório do Jogo Patológico (Amjo) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Segundo ele, a maioria dessas pessoas é composta por mulheres, mas todas possuem temperamento forte, são ágeis, dinâmicas, inquietas, perfeccionistas, possuem uma desenvoltura social e cultural maior, são imediatistas e muito inteligentes. "O mais interessante dos dados que a gente conseguiu com o grupo foi que essas pessoas têm tendência a ser mais inteligentes do que a média das outras pessoas. De alguma forma essa vantagem intelectual não é aplicada na vida, porque racionalmente são pessoas que, depois da compra, são capazes de saber que fizeram besteira", complementa. Na hora da compra, o craving (avidez) por comprar fala mais alto. Os compulsivos por jogos, por exemplo, possuem uma fixação maior que a fixação do viciado em cocaína.
Muitos problemas podem ser gerados por essa doença. Os compulsivos contraem dívidas de até dez vezes a sua renda mensal, o que gera problemas pessoais e familiares. Quando são privados dos meios de compra, chegam até a roubar. "Uma das pacientes, quando estava impossibilidade de comprar, a impulsividade era tamanha que ela chegou a roubar o produto, o que nunca tinha feito antes", relata. Essas pessoas, até então, eram honestas e se deixaram levar pelo impulso de comprar. Algumas vezes aplicam golpes, passam cheque sem fundo e pedem dinheiro emprestado para quitar dívidas advindas de sua compulsão. "Não é um defeito de caráter, é uma doença mesmo, a pessoa não é desonesta, ela tem uma incapacidade de controlar esse impulso. Elas chegam ao tratamento porque acabam atrapalhando a vida das outras pessoas."
Além de sua compulsão em comprar, as pessoas que sofrem da oniomania apresentam outros tipos de impulsividades, como fazer muito exercício, comer exageradamente e trabalhar muito. Mas não compulsivamente, como o obeso ou o workaholic, mas fazer tudo com exagero. Ao comprar, elas não pensam em colecionar coisas, mas acabam sempre comprando um determinado tipo de objeto. "Uma paciente tem 120 pares de sapato, a outra tem mais de 600 CDs, teve outro caso em que a pessoa gastou um talão de cheques em um só dia. Outra paciente possui 30, 40 vestidos semelhantes e que nem são usados", garante Fuentes.
Muita gente acha que o consumidor compulsivo compra apenas por problemas emocionais. A depressão está muito ligada a isso, mas não é o que determina o impulso para a compra. As pessoas compulsivas, mesmo quando tratadas com medicamentos antidepressivos, não deixam de ter seus impulsos e, quando conseguem se recuperar, passam por uma crise de abstinência parecida com a dos usuários de drogas pesadas. O compulsivo acaba comprando excessivamente porque não resiste ao seu impulso, e, enquanto não realizar a compra, se sente ansioso, irritado e suas mãos ficam suadas. "Isso tudo é tranqüilizado quando ele compra e muitas vezes pouco importa o que compra", diz Fuentes. O mito de que "eu vou comprar porque estou me sentindo mal-amado" não tem a ver com o transtorno do impulso.
Apesar dessas pessoas com transtorno viverem em uma sociedade que respira propaganda, o professor Dilson Gabriel dos Santos, da Faculdade de Economia e Administração da USP, nega que esse seja o principal motivo que leva o consumidor a se tornar um compulsivo. "Nos Estados Unidos, antes de chegar nos caixas de supermercado, você tem que passar por um 'corredor polonês' cheio de produtos. Aqueles são produtos típicos de compra por impulso, mas que atingem todos os tipos de consumidor. No caso dos consumidores compulsivos, eles tornam-se presa fácil para os estímulos do marketing", e complementa: "O marketing não tem o propósito de agir sobre as pessoas compulsivas, e nem tem como distinguir quem é normal e quem compra compulsivamente". Às vezes, o fato de um produto estar bem colocado na vitrine, ou em promoção, ou até sendo degustado em um supermercado, pode levar o compulsivo a comprá-lo porque chama sua atenção, mas ele poderia comprar qualquer outro produto, pois o impulso que lhe faz comprar independe do que ele vai adquirir. "Imagine a pessoa que está propensa a comprar. Ela responde bem a esses estímulos, e muitas delas sentem uma sensação de completude. Por não ser uma compra planejada, ela pode comprar aquilo que estiver chamando mais a atenção na hora", diz Fuentes. Nos casos de compra por internet ou TV, por exemplo, há muita devolução do produto justamente porque ele não é o mais importante no ato da compra. Quando o produto chega em casa, a pessoa percebe que comprou algo inútil e o devolve.
Para esses consumidores compulsivos, o professor Dilson dá uma dica: "O pessoal que é mais racional sugere que você saia com uma listinha e a siga rigorosamente. É uma forma de você se defender dos estímulos permanentes e que estão em qualquer lugar, gastando menos".


Serviço
Devedores Anônimos (DA)
Rua Santa Ifigênia, 30, Igreja Santa Ifigênia - Centro, São Paulo -SP
Fone: (011) 229-6706 ou 229-4066

Como age o compulsivo

- O consumidor impulsivo compra para satisfazer uma necessidade social, já o compulsivo faz na tentativa de preencher uma falta pessoal.
- Não tem limites para a aquisição de objetos
- Nem sempre admite que tem problemas
- Na maioria das vezes, acaba se endividando mais do que pode
- Geralmente, apresenta outros tipos de distúrbios emocionais
- Sem saber da gravidade da situação, sente orgulho em cada nova aquisição.

Como encontrar a cura
- Procurar tratamento psicológico para buscar as raízes do problema
- Não tentar preencher a sensação de vazio interior com produtos materiais
- Não ceder aos estímulos oferecidos pelos comerciantes
- Prestar sempre atenção nos atos de excesso e tentar analisar o motivo da aquisição
- Saber distinguir o supérfluo do que é que realmente necessário
- Evitar o uso de cartões de crédito e procurar pagar todas as compras à vista e, de preferência, com dinheiro.

Para a psicanalista Márcia Maria Rodrigues Ganime as relações afetivas estão sendo colocadas em segundo plano e o ter passa a ser mais importante do que o ser. O lema atual é o pronto para o consumo.
- Somos estimulados a consumir a todo momento, mas existe diferença entre o consumidor eventual e o compulsivo. Quem compra por necessidade e o que necessita comprar. Existem pessoas que consideram importante comprar, não importa o que. Neste caso é detectada a compulsão - explica.

Diferente do comprador impulsivo, que pode até não conseguir resistir a uma ida ao shopping e vê aquela mercadoria dos sonhos com desconto de 50%, mas não tenta compensar desvios emocionais através das compras, o compulsivo sente cada vez mais necessidade de consumir e isto torna-se um fonte inesgotável de frustração.

Sofrimento. E a partir daí, ele começa a se endividar, a pedir dinheiro emprestado, a evitar pagar com dinheiro e a usar métodos que adiem o sofrimento, como cartões de crédito e cheques pré-datados. Com estes artifícios, o comprador compulsivo retarda a consciência do problema. Quando ele percebe a gravidade, tem uma crise de choro, mas não assume a culpa, que acredita estar no Governo, no patrão, menos no consumo desenfreado, finaliza o professor. E a psicóloga ratifica: O gasto financeiro é a pior conseqüência, já que, dependendo da situação do consumidor, podem existir complicações sociais e econômicas graves.

O funcionamento mental do alcóolatra, o jogador compulsivo, o obeso e o comprador compulsivo é bastante semelhante. Eles tentam aplacar um profundo sentimento de vazio e angústia. Esse tipo de recurso é insatisfatório, porque é ilusório. O compulsivo tenta apenas preencher um vazio ao invés de tentar compreendê-lo, afirma a psicalista Márcia Ganime.

Já para a psicóloga Wilsa Barreira, o problema vai além dos objetos materiais: A sociedade, sem dúvida, auxilia este tipo de conduta quando nos sobrecarrega desta forma. Tanto que nos transformamos em consumidores não só de objetos, mas também de palavras e de imagens, esquecendo de nossa singularidade.

jornal do commercio
Cintia Magalhães e Helena Furtado

Confessions of a Shopaholic Official Premiere Trailer

O que é shopaholic?

Shopaholic é uma pessoa que compra compulsivamente ou frequentemente, não consegue se controlar, principalmente diante de uma promoção, é um comprador compulsivo. Todo sentimento de tristeza, frustação, dor, é compensado pelo ato da compra. Tudo fica mais interessante, alegre, é como se o mundo fosse cor-de-rosa. A satisfação é tão grande que não se compara a nada. Compra-se pelo prazer que este ato lhe proporciona e, para manter esse sentimento de euforia e felicidade, entra-se em um círculo vicioso para a satisfação pessoal. Este tipo de pessoa, sempre tem uma justificativa para suas aquisições, para ela, está sempre faltando algo e nunca tem o suficiente.
O problema é que a pessoa não percebe que está extrapolando e não aceita que está com um problema muito sério. Ela pensa que para quando quiser, que controla seus desejos, sem perceber que está sendo controlada, escravizada. Muitas vezes, a pessoa arrepende-se do que fez e sente-se mais deprimida e infeliz. Jura que nunca mais fará isso de novo. Entretanto na primeira saída que der, será tragada pelas irresistíveis e sedutoras vitrines. Como se não bastasse isso, os lojistas já conhecem este tipo de pessoa e todo lugar por onde ela passa, terá sempre alguém a cercando e facilitando sua compra, pois é considerada uma excelente cliente.
A coisa fica séria quando a pessoa compra além da sua capacidade de pagar e começa a desesperar-se, pois não quer dever, mas também, não tem de onde tirar dinheiro. Aí, ela enrola-se com empréstimos e fica a ponto de fazer loucuras para arrumar dinheiro, deixando todos à sua volta malucos. Mas, não pense que a pessoa vai mudar. Passado o aperto, depois de algum tempo, ela pensa que está mudada e acaba fazendo tudo outra vez.
O primeiro passo para reverter esta situação é a pessoa reconhecer o problema e pedir ajuda. A partir daí, é tratar com profissionais especializados, fazendo na maioria das vezes, uso de medicamentos e, ficar atenta. Pois, uma vez compulsivo, sempre compulsivo. Deve-se evitar as tentações e nunca pensar que está curado. Fugir das lojas, das propagandas e ficar bem longe dos e-mail promocionais, será sempre a melhor opção.

Dedezza.

Compras: quem exagera pode estar doente

Comprador compulsivo percebe a disfunção apenas quando se vê obrigado a pedir ajuda aos familiares. Neste estágio, situação geralmente já está bastante complicada
Veículo: Jornal Cruzeiro do Sul
Seção: Mulher
Data: 21/10/2005
Estado: SP
Que as pessoas, em especial as mulheres, gostam de gastar, não é novidade, mas como saber quando o prazer pelas compras ficou sem limites e já se tornou uma compulsão? Apesar da dificuldade em reconhecer essa patologia (que merece e precisa ser tratada), o comprador compulsivo percebe a disfunção apenas quando se vê obrigado a pedir ajuda aos familiares, mas nesse estágio a situação geralmente já está bastante complicada.
De acordo com a psicóloga e psicoterapeuta Tânia Maria Orsi, de Sorocaba, quem tem compulsão por compras é diferente de quem é simplesmente consumista, pois esse dificilmente compromete o seu orçamento mensal, e muito menos o patrimônio familiar.
A psicóloga explica que compulsão é o sintoma do ato repetitivo, ou seja, "o comprador compulsivo não consegue deixar de comprar, e não tem mais controle sobre sua vontade. Essa pessoa precisa gastar, caso contrário se sentirá angustiada. E essa compulsão é uma doença que necessita de tratamento".
Já o consumista, que não coloca em risco suas finanças, está inserido na patologia da "contemporaneidade": compra também para preencher algum vazio, mas sem comprometer o andamento de sua vida, podendo até ficar um pouco endividado, mas sem nenhuma gravidade.

Mídia
A psicóloga reconhece também que a mídia é a grande responsável pela criação de desejos, fazendo com que as pessoas, que são seres desejantes, sintam a necessidade de possuir cada vez mais. O desejo de consumo também está ligado ao fato de que a sociedade em geral, trata melhor quem se apresenta bem.
O poder da mídia pode ser comprovado, de acordo com Tânia Maria Orsi, pelo comportamento do consumidor, que acaba cedendo aos apelos da publicidade e comprando algo que nem precisa. Um exemplo prático disso são as compras feitas nos hipermercados de hoje: antigamente a dona-de-casa ia ao mercado apenas para fazer a "compra do mês", que consistia basicamente em produtos alimentícios, de higiene pessoal e limpeza. Hoje, os compradores saem carregando até mesmo eletrodomésticos de grande porte, como televisores.
E diante de tanta opção de compra, até mesmo os simples consumistas precisam ter cuidado para não se tornarem compulsivos.

O que fazer
A psicoterapeuta esclarece que o comprador compulsivo sofre por não resolver carências próprias, sendo que nas compras ele resolve instantaneamente o seu problema, mas não atua na sua causa. Ela destaca ainda que angústia todos nós sentimos, e que a diferença está na forma de encará-la: o consumidor compulsivo compra, os outros vão tentar resolver suas questões de outras maneiras, como por exemplo buscando fazer coisas que lhe dêem prazer, como atividades artísticas, e até mesmo fortalecendo os laços de amizade com familiares e amigos.
Tânia Orsi explica que o comportamento do consumidor compulsivo pode aparecer em quadros patológicos, como depressão. Mas atenta que "nem todo depressivo é comprador e nem todo comprador é depressivo". Porém, se juntar a depressão com essa compulsão por compras, a situação fica bastante séria, correndo o risco dessa pessoa desestruturar toda a família, chegando a atingir seu patrimônio.
Por entender que quadro compulsivo é uma doença, a psicoterapeuta reforça que tais pessoas necessitam de respaldo médico e psicológico.
Na parte da psicologia, o paciente terá que descobrir sua riquezas internas, reconhecendo que é capaz de dar e receber amor, e que tais valores são mais importantes do que todos os bens que possui. Mas se esse paciente compulsivo tiver níveis de ansiedade e angústia muito altos, deverá associar psicoterapia com medicação. Vale também frisar que, normalmente, necessitam de medicação aqueles pacientes que mesmo sem ter dinheiro não param de gastar.
Mas para saber qual o tratamento necessário e correto a ser seguido, Tânia Orsi orienta que os pacientes devem ser avaliados por psicólogo e médico, pois não são todos os casos que necessitam de tratamento associado.

Medidas práticas
Além do respaldo médico, a psicóloga lembra que medidas práticas para que haja contenção dos gastos precisam ser tomadas. Uma delas é que os familiares acompanhem o histórico financeiro do comprador compulsivo, e outra é a redução do crédito bancário.
Tânia Orsi também destaca que o consumidor contumaz não tem intenção de lesar ninguém, mas que por não ter controle sobre seus gastos, acaba deixando de honrar seus compromissos diferentes.
Ela faz essa observação para mostrar que o compulsivo é diferente do devedor com deficiência de caráter, que prejudica as pessoas não pagando o que deve, mas que mesmo assim dorme tranqüilo.

Quando o prazer vira um vício

O comprador compulsivo realiza compras em quantidades exageradas freqüentemente gastando muito mais dinheiro do que pode, contraindo dívidas, passando cheques sem fundos (geralmente pré-datados), gerando desta forma prejuízos materiais para si e familiares mais próximos, culminando em falência, divórcios e depressão. Além disso, o tempo despedido, pensando em compras e indo atrás dos objetos de consumo pode destruir com sua carreira profissional, comprometer sua vida acadêmica e social.
Cerca de 5-6% da população sofrem do problema e é mais freqüente entre as mulheres, na faixa dos 30 a 40 anos. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que 90% dos portadores do transtorno eram do sexo feminino. Porém, as últimas pesquisas americanas demonstram que os compradores compulsivos masculinos vêm aumentando assustadoramente, equiparando-se às do sexo feminino. Mesmo assim, as mulheres, em sua maioria esmagadora, ainda são as que freqüentam os consultórios psiquiátricos e psicológicos.
Atualmente o problema tem atingido pessoas cada vez mais jovens (por volta dos 18 anos), idade em que os pais costumam presentear a maioridade de seus filhos liberando talões de cheque ou cartões de créditos, muitas vezes de forma inadvertida. É muito comum, hoje em dia, vermos jovens endividados, vítimas das facilidades de crédito e das campanhas publicitárias.
Além dos apelos do mercado, as facilidades de compras pela internet e canais de televisão voltados exclusivamente para o consumo também são fatores que propiciam e exacerbam o problema.
Infelizmente estes jovens (ainda estudantes) antes mesmo de conquistar a independência
financeira já se vêem implicados com o SPC e com seus nomes sujos. Os mais favorecidos financeiramente normalmente são socorridos pelos próprios pais. Porém, os menos privilegiados não têm perspectivas de quitarem seus compromissos, recorrendo a empréstimos e agiotas, o que só agrava o problema. Mesmo assim, eles acreditam que um dia vão conseguir liquidar suas dívidas e continuam comprando a prazo ou pagando apenas o mínimo de seus cartões de crédito.
Produtos como maquiagem, jóias, roupas, bolsas, sapatos e perfumes são os preferidos pelas mulheres. Já os homens têm como foco os celulares, eletroeletrônicos, motos e até carros.
Não podemos negar a grande influência que nossa cultura consumista exerce sobre este transtorno, no entanto também é inegável o componente afetivo representado pelo vazio interno que os compradores compulsivos vivenciam. Via de regra, o comprar compulsivo envolve dois fatores: 1) Necessidade de bens materiais, com o intuito de alcançar a “felicidade”, que confere poder e status; 2) Como ferramenta para melhorar a auto-estima e sentir-se bem, preenchendo ilusoriamente a carência afetiva.
É preciso cortar o ciclo vicioso, uma vez que a compra compulsiva é antecedida por um desejo incontrolável e, no ato da compra em si, vivencia um grande sentimento de alívio tensional (prazer propriamente dito) ou ainda uma incrível sensação de poder e felicidade. Essa “onda” boa é seguida em geral de culpa e remorso por ter fracassado frente à compulsão. Assim, novamente o compulsivo é tomado por uma sensação de ansiedade muito grande, que só é aliviada com novas compras.
A compulsão por compras é mais grave do que se pode imaginar. É tal qual um vício em drogas ou jogo. Quem sofre do problema necessita de tratamento adequado, que pode envolver tanto terapia medicamentosa quanto psicoterapia.

É comum que as pessoas portadoras do problema comprem coisas desnecessárias ou roupas repetidas, de várias cores, sejam elas caras ou não, somente pelo prazer de comprar ou para aliviar suas ansiedades. Em casos mais graves, entulham caixas em seus armários e quartos, até perderem totalmente os espaços dentro de suas próprias casas.
Fonte: NAPADES - MEDICINA DO COMPORTAMENTO